Profissionais e moradores do Serviço de Residência Terapêutica (SRT) de São Pedro da Aldeia marcaram presença no 1º Simpósio de Saúde Mental de Rio Bonito. O evento marca a história da luta antimanicomial na região. A comitiva esteve acompanhada pela assessora especial da Gestão de Saúde Mental, Rosemary Calazans Cypriano, e pela coordenadora do SRT, Renata Nogueira Antum.
O encontro reuniu representantes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de diversos municípios, da Secretaria de Estado de Saúde, por meio da Superintendência de Atenção Psicossocial, além dos profissionais que atuaram na Ação Civil Pública que resultou no fechamento do Hospital Colônia de Rio Bonito. Moradores de diferentes Serviços Residenciais Terapêuticos, autoridades públicas e membros da sociedade civil também participaram do evento.
Com o tema “Abrindo as Portas do Hospício”, o simpósio propôs uma reflexão profunda sobre os rumos da saúde mental no Brasil, destacando especialmente o processo de desinstitucionalização do Hospital Colônia. Esse movimento representa um marco decisivo na substituição do modelo manicomial por uma rede de cuidado baseada no respeito à dignidade humana, no direito à liberdade e na reinserção social dos indivíduos.
Durante o evento, também foi lançado o livro “Abrindo as Portas do Hospício”, uma coletânea de relatos, análises e experiências que retratam a trajetória da reforma psiquiátrica no país, com ênfase na experiência de Rio Bonito. A publicação resgata memórias e documenta as transformações promovidas pelo fechamento do hospital, que funcionou por mais de cinco décadas.
“Ao encerrar as atividades de um hospital que, por 56 anos, operou com base na exclusão, desumanização e negação de direitos, inauguramos uma nova perspectiva de cuidado e cidadania. O fechamento, em 2016, abriu caminhos para a liberdade e o pertencimento de pessoas que viveram por tanto tempo sob institucionalização”, destacou a coordenadora Renata Antum.
A assessora Rosemary Calazans Cypriano relembrou momentos marcantes da luta antimanicomial em São Pedro da Aldeia. “Foi com grande emoção que participei desse momento, pois me remeteu a um período importante da minha trajetória, quando atuei como gestora da Saúde Mental do município. Naquela época, estive diretamente envolvida no processo de desinstitucionalização dos moradores internados, em tempos em que o tratamento das pessoas com sofrimento mental grave ainda não era baseado no cuidado em liberdade. Em São Pedro da Aldeia, mesmo antes da ação civil pública que resultou no fechamento do Hospital Colônia de Rio Bonito, já atuávamos com apoio da Secretaria Municipal de Saúde, do Governo do Estado e do Ministério da Saúde. Por meio da Lei 10.216, conseguimos retirar, de forma digna, todos os moradores que haviam passado anos internados. Ver hoje a presença de ex-internos, que atualmente vivem no Serviço de Residência Terapêutica, é extremamente emocionante. Esse reencontro reforça o quanto é possível oferecer um cuidado mais humano, respeitoso e em liberdade, como sempre deveria ser”, declarou. O simpósio reforça a importância da continuidade das políticas públicas voltadas para a saúde mental, com foco em práticas humanizadas e inclusivas, alinhadas aos princípios da Reforma Psiquiátrica e da luta antimanicomial.