A Prefeitura de São Pedro da Aldeia, por meio da Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Trabalho e Renda (Sagat), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RJ), deu início à coleta de espécies de aroeira para identificação botânica e análise química em laboratório, com foco no uso medicinal e beneficiamento comercial da planta, conhecida como pimenta rosa. O trabalho integra uma série de ações pioneiras voltadas ao aprimoramento da cadeia produtiva da aroeira no município.
Secretário de Agricultura, Abastecimento, Trabalho e Renda, Dimas Tadeu falou sobre as ações iniciadas. “Esse é um trabalho específico onde estamos buscando, dentro da aroeira, uma marcação de qualidade e uma identificação precisa de materiais para a formação de um banco de matrizes. A proposta é que possamos multiplicar as plantas com potencial farmacológico, rica em princípios ativos, e também de alto potencial produtivo. Nós estamos buscando um respaldo científico e, para isso, contamos com a parceria da Fiocruz e uma parcela de apoio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Para os nossos produtores rurais é um ganho, porque vão ter a garantia de um material de excelência para ser multiplicado em futuras áreas de plantio”, disse.
O trabalho dos especialistas incluiu a marcação de matrizes e a coleta de amostras vegetais na reserva florestal legalizada existente no Assentamento Ademar Moreira, no bairro São Mateus. Todos os exemplares vegetais registrados em exsicatas serão depositados no acervo do herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para estudo e posterior obtenção de laudo técnico botânico, contendo informações como a descrição das espécies, distribuição geográfica e dados referentes ao uso e ao valor econômico atribuído.
Já as amostras da raiz, folhas e frutos serão enviadas para o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), considerado o maior laboratório farmacêutico oficial vinculado ao Ministério da Saúde, que atua nas áreas de educação, pesquisa, inovação tecnológica e produção de medicamentos. O objetivo é promover uma análise química instrumental e fitoquímica da matéria-prima vegetal, dos extratos e do produto final, fornecendo subsídios para a proposição de critérios de qualidade.
Coordenador do setor de Plantas Medicinais da unidade especial da Fiocruz em Petrópolis, o pesquisador e analista Sérgio Monteiro destacou os objetivos do trabalho. “Dentro desse projeto, estou dando suporte na parte de determinação da espécie, na sua identificação botânica, e na parte de coleta para análise química, para saber se a planta realmente está com os teores e princípios ativos de acordo com o que padroniza a Farmacopeia Homeopática Brasileira. Será um estudo que vai se estender durante o ano, com coleta sazonal, para que possamos conhecer os ciclos e saber em que mês a planta vai estar com seus ativos em maior concentração. O objetivo é gerar um padrão e demonstrar o potencial não só comercial, mas também medicinal da aroeira em toda a sua cadeia produtiva na região. O nosso foco principal é fortalecer a agricultura familiar orgânica”, salientou.
Além de garantir a identificação botânica, o trabalho vai possibilitar a certificação e a rastreabilidade das espécies vegetais de interesse medicinal, com o objetivo de favorecer o acesso seguro e o uso racional da planta de forma sustentável e com fins comerciais. Os dados poderão ser utilizados como referência a outros estudos científicos e servirão de base, em uma próxima fase do projeto, para a formulação de uma cartilha de boas práticas, contendo as propriedades atribuídas à planta, os protocolos de cultivo, beneficiamento, qualidade vegetal, composição química, dentre outras etapas que estruturam a base da cadeia produtiva da aroeira.
De acordo com o técnico em Agropecuária do MAPA, Pedro Catette, que também compõe a equipe de pesquisa em campo, o material deverá servir como referência para produtores locais e em todo o país. “A ideia é que a gente possa ter um material para ser repassado ao Brasil inteiro e padronizado em nível ambiental, de comercialização, além do reconhecimento das plantas junto à Fiocruz e ao Jardim Botânico. A proposta é colocarmos São Pedro da Aldeia como sendo a cidade piloto, para que outros municípios também possam trabalhar nessa mesma linha, e para que possamos ter um produto de qualidade, melhorando as condições de comercialização e beneficiamento para o produtor. Estamos fazendo dois trabalhos distintos. O primeiro é a identificação da planta, que é como se fosse a certidão de nascimento dela, que será atestada por meio de um laudo técnico botânico. E, por outro lado, também será feita uma análise química dessa planta, para verificar sua eficácia farmacológica e o princípio ativo voltado ao uso medicinal, que vai dar uma garantia e um valor agregado muito maior para atender o mercado”, ressaltou.
As etapas de trabalho em parceria com a Fiocruz, Jardim Botânico, MAPA e Emater-RJ complementam uma série de ações pioneiras com a pimenta rosa em São Pedro da Aldeia. A cidade foi a primeira em todo o Estado do Rio a inaugurar um centro de beneficiamento da aroeira por meio de recursos do Programa Rio-Rural da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio de Janeiro/Emater-Rio. O projeto pioneiro envolveu ainda a elaboração de um Plano Florestal Sustentável para o manejo e cultivo da planta, aprovado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), e a capacitação e certificação dos produtores rurais pelo SENAR-RJ. O plano foi um marco para a legalização da atividade de extração. Com o projeto “Aroeira Novos Tempos, Novos Rumos”, São Pedro da Aldeia também foi um dos municípios finalistas do Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor, na categoria Inovação e Sustentabilidade.
A escolha da comunidade aldeense foi feita a partir de um estudo conduzido por diversas instituições que formam um Grupo Técnico de trabalho, o GT-Aroeira, dedicado especificamente ao estudo da exploração da aroeira no Rio de Janeiro, composto por representantes da Prefeitura, Inea, Mapa, Emater-RJ, dentre outras entidades e especialistas em botânica e gastronomia. Também fazem parte do grupo de pesquisa e coleta de amostras o químico Marcos Monteiro, da Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário (Dpdag) do MAPA, o técnico agrícola da Sagat, Frederico Bandeira, a veterinária da Sagat, Ana Carolina Macedo Leitão, e o biólogo Flávio Gomes, vinculado à Secretaria de Educação.
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