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Bloco dos Bonecões: tradição no Carnaval familiar aldeense

Em homenagem a personalidades que fizeram história no município, os bonecos gigantes levam alegria aos foliões e promovem o resgate cultural em São Pedro da Aldeia
Acostumados a arrastarem uma multidão pela Avenida São Pedro, este ano os bonecões estão de quarentena e se preparam para o próximo Carnaval | Foto Arquivo/PMSPA

Ao pensar no carnaval de rua na Região dos Lagos, a festa de São Pedro da Aldeia salta à memória dos foliões. Com blocos que animam os diversos pontos do município durante o dia, a noite também é de diversão na avenida que leva o nome da cidade, com um carnaval familiar. Uma das atrações mais aguardadas todos os anos chega acompanhada de uma banda tocando as marchinhas mais conhecidas. Basta ouvir os sons das tubas, clarinetes e tamborins, que todos os olhares se voltam para a chegada das figuras que fizeram história no carnaval aldeense, que cumprimentam de cima os foliões. Antônio Garcia, Zezé Temporão, Jancerico, Mirtes e muitos outros se reúnem todos os anos em bloco só deles: o Bloco dos Bonecões. 

“Neste carnaval, os Bonecões estão cumprindo a quarentena e se cuidando, para que no próximo ano, com a esperança da Covid-19 controlada em nosso país,  possamos todos curtir a folia em dobro”, brinca o artista plástico, Flávio Rangel, hoje responsável pelo bloco, na expectativa para o próximo carnaval. 

Os bonecos estão guardados este ano, e o artista plástico Flávio Rangel anseia pela chegada do próximo carnaval
Foto: Ascom PMSPA/Robson Cruz

O secretário municipal de Cultura, Thiago Marques, ressalta o clima familiar e de alegria que marca a folia aldeense. “O Carnaval de São Pedro é um momento especial para a cidade. Os blocos de rua, os tradicionais bonecões, as famílias e os turistas levam às ruas a expressão da alma aldeense. É alegre, vibrante e ao mesmo tempo pacífico e familiar”.

Como a tradição começou 

Criado no ano de 2002, por Francisco Carlos da Costa, o Cantarelli, ex-secretário de Cultura,  Esporte e Lazer aldeense, o bloco foi inspirado nos tradicionais bonecos gigantes do carnaval de Olinda. Mas, em São Pedro da Aldeia, os bonecões têm um diferencial. Desde o primeiro ano nas ruas, as figuras que alegram as noites do Carnaval não são de personalidades que possam ser encontradas em qualquer outra cidade do país. O fundador, Cantarelli, fez questão que o Bloco dos Bonecões homenageasse quem se dedicou e marcou a folia no município.

O cuidado com a tradição permanece vivo enquanto ele narra toda a história de como foi este primeiro carnaval.  O grande idealizador do resgate à tradição da folia na cidade, embarca em uma viagem no tempo e relembra com detalhes como foi a trajetória.  “A festa na cidade não tinha identidade de Carnaval. As músicas que tocavam eram de todos os gêneros,  menos de Carnaval. Para mim, não estava certo isso. O primeiro Carnaval desde que assumi a pasta já tinha passado e não queria que o próximo fosse igual. Pensei: vamos mudar tudo. Comecei a estudar e me concentrei nos carnavais de rua que considerava mais bonitos, que são os de Olinda e Recife. Na época, tínhamos acabado de fazer uma exposição sobre arte de bonecos com um artista que é referência na área, o Mestre Clarêncio. Perguntei então, se ele não produziria uns bonecos gigantes como os de Olinda para o carnaval, isso com pouco tempo para o evento. A grande dúvida era quais bonecos fazer? Não queria que fossem aleatórios, então pensei, vamos fazer os bonecos inspirados nas personalidades que tiveram influência no Carnaval de São Pedro da Aldeia”, lembra Cantarelli. 

Atualmente, quem cuida do bloco é o artista plástico Flávio Rangel, que acompanha a festa do Momo da cidade há muitos anos. Responsável pela confecção das ornamentações que enfeitavam as ruas e o palco da cidade, Flávio foi aprendendo como os bonecões eram feitos. Agora, ele assume essa responsabilidade de acrescentar algum novo integrante ao bloco, quando julga necessário, sempre respeitando a intenção original de homenagear personalidades que fizeram história na festa aldeense.

Foto: Ascom PMSPA/Robson Cruz

Ao falar sobre os bonecos, Flávio Rangel mostra seu conhecimento sobre a história de cada um, falando como quem fala de um amigo. O carinho pelo trabalho aparece no toque nas bochechas de cada boneco, ao contar a história da personalidade homenageada. “Já temos quase 20 anos desses bonecos fazendo a alegria dos foliões. A ideia começou lá atrás, com Francisco Cantarelli que se inspirou nos carnavais de Olinda e pensou, por que não adaptar ao município de São Pedro da Aldeia. Ele teve a grande ideia de homenagear os carnavalescos da cidade, pessoas de grande influência e que fizeram história. Conforme as pessoas foram gostando, foram entrando mais bonecos para o bloco. E a família está crescendo até hoje, de vez em quando entra mais um. Cuido de cada boneco com muito zelo, pois são um legado da cultura da nossa cidade. Comecei observando como era feito o trabalho, e pensei, eu também consigo fazer. Quando assumi o bloco, fui incluindo aos poucos os novos bonecos. Também cuido da restauração dos mais antigos, e chego a me arrepiar quando lembro quem eram aquelas personalidades, especialmente do Lema, artista plástico igual a mim, que produziu belíssimas ornamentações, e sem contar com os recursos que temos hoje. É fascinante”.

Os bonecos são confeccionados em estrutura de isopor, que é coberta de camadas de papel e cola, em seguida recebe uma camada de massa corrida e é finalizada com uma camada de resina.

Os primeiros bonecões foram produzidos pelo bonequeiro, Mestre Clarêncio Rodrigues, e pela escultora Marina Vergara.

Mestre Clarêncio aponta a energia que sentiu vinda dos foliões quando o Bloco dos Bonecões desfilava. Para ele, a emoção dos familiares e de toda população era algo tocante. “Foi muito rico, no primeiro ano, a vibração dos familiares dos homenageados. Integrei em minha equipe alguns aderecistas e escultores locais, e também outros que convidei para me ajudarem nessa missão. A cada ano que os bonecos saíam vinha uma emoção muito grande dos foliões,  porque estava ali retratado o valor que as pessoas davam a esse feito. Era emocionante a satisfação do público em relação aos bonecos, porque eles reconheciam em cada personagem, um membro de sua família, alguém importante para o Carnaval do município. Com isso, nós valorizamos os personagens ligados à Cultura local e proporcionamos uma alegria muito grande ao folião. Tinha, ainda, uma banda com vários músicos, que puxava o bloco. Assim, consolidou-se o carnaval familiar. Quando se fala em carnaval,  o Bloco dos Bonecões é sempre lembrado”.

Responsável pela confecção dos bonecos Badu e Luis Santos, Marina Vergara ressalta a importância do resgate cultural. A escultora também aponta o sentimento que vem à tona para os familiares dos homenageados todas as vezes que os bonecos saem nas ruas. “Para mim foi muito tocante, porque a gente resgata a história e a memória da cidade. Tenho certeza que para as famílias dessas pessoas homenageadas é uma alegria. É sempre um prazer poder utilizar a minha habilidade, como artista, para trazer à tona essas figuras importantes na cidade”.

Quem são os Bonecões 

O primeiro bloco saiu com 10 bonecos, escolhidos a dedo por Cantarelli para homenagearem as figuras que mais marcaram o carnaval de São Pedro da Aldeia.

Zezé Temporão

Ritmista, José Temporão foi baterista das orquestras de Carnaval, participando de diversos blocos de rua.

Mirtes 

Carnavalesca, desfilou nos primeiros blocos, sendo uma das grandes incentivadoras e apoiadoras do bloco Os Canarinhos, na década de 50. Foi, também, uma exemplar funcionária pública do município.

Jancerino 

Grande compositor, era responsável pelas letras das marchinhas na cidade. Fez parte do primeiro bloco, em 2002. 

Badu

Compadre de Jancerino, pai de Coraci e Sandra de Badu, também homenageados, foi um dos criadores do primeiro bloco de Carnaval de São Pedro da Aldeia, Os Camisolos.  

Coraci

Dizia-se que São Pedro da Aldeia era animada pela Banda de Coraci. Músico, fazia parte da orquestra da cidade e da banda Quebra Galho junto com seu pai, Badu, e com Rubinho. A Banda de Coraci chegou a ser conhecida como Big Som Brasa, na década de 60.

Irmãos Rubinho e Filhinho do Correio 

Ruben Santos e Carmerino Santos foram foliões que formaram a primeira orquestra que tocava nos carnavais da cidade e no bailes do Clube São Pedro. Rubinho participou, também, da Banda Quebra Galho.

Lema

Guilherme Martins de Souza Filho, também conhecido como Guilhermezinho ou Lema, foi pintor e artista plástico. Era responsável pelas ornamentações de Carnaval da cidade e alegorias dos blocos. Mesmo com poucos materiais e recursos, produziu belíssimas alegorias em madeira, papel, cortiça, entre outros.

Antônio Garcia

Cantor e compositor, criava as marchinhas e sambas para o bloco dos Canarinhos. Uma de suas músicas “Vamos Sacudir” foi gravada pelo Trio Esperança. Também foi um dos homenageados no primeiro ano do bloco.

Luis Santos

Músico, tinha o costume único de equilibrar um copo de bebida na cabeça enquanto sambava e tocava na banda do bloco. Essa característica foi lembrada pela escultora no boneco que faz homenagem a ele.

Brasa

Personalidade querida do Carnaval da cidade, participava da organização do bloco Unidos da Pitória.

Décio Coroa

Foi uma homenagem feita pelo São Pedro Esporte Clube, do qual foi presidente, por ter sido um grande incentivador do bloco dos Canarinhos. Confeccionado por Flávio Rangel, saiu no terceiro ano de bloco. A homenagem foi uma surpresa, conforme conta Cantarelli. “Ao passar pelo Clube, foi feito um minuto de silêncio e lá de dentro saiu o boneco do Décio Coroa para se juntar ao bloco”.

Candinho

Músico, ritmista, durante um período foi mestre de bateria dos Canarinhos. Também foi um dos fundadores da Banda Aquarela.

Borrachinha

Personalidade que marcou o Carnaval da cidade, desfilava nos principais blocos aldeenses.

Nilda

Conhecida como tia Nilda, foi uma foliã entusiasta e uma querida professora no município.

Sandra de Badu

A empresária Sandra Coelho herdou de seu pai, Badu, o gosto e o talento para organização dos blocos de Carnaval de rua na cidade. Ela segue à frente do Bloco da Camisola, que seu pai iniciou.

A banda Bem de Amor

Cantarelli não esconde o orgulho ao falar sobre o primeiro “bandão” que acompanhava o bloco nos primeiros anos, a banda Bem de Amor.  Ao todo, eram 45 componentes divididos entre 35 instrumentos de sopro, com naipes de trombone de vara, clarins (pistões), saxofones, clarinetes e duas tubas, além de outros  dez na percussão, caixa, bumbo, repique e tamborins. 

“A primeira banda que acompanhava o desfile do bloco foi a Banda Bem de Amor. 

Vinham músicos de Campos, do Rio de Janeiro, de São Gonçalo, de Saquarema, para tocar aqui no Carnaval. O pessoal da percussão era todo local. Eu ia à frente daquele bandão, conduzindo o bloco. O desfile ia das 20h até a meia-noite pelas ruas da cidade. Depois acontecia o baile popular com outra banda no palco da Avenida São Pedro,  que era todo decorado com o tema do ano. Cada tema também era pensado com muito carinho. Eu desenvolvia o conceito e o Flávio Rangel confeccionava. São Pedro da Aldeia foi a única cidade que homenageou os 100 anos do frevo. A intenção era fazer um carnaval tradicional e eu cuidava do roteiro das músicas junto ao maestro da banda. Foi o primeiro Carnaval que só tocava samba, samba-enredo, frevo e marchas. A única concessão foi para a música Satisfaction, dos The Rolling Stones, tocada em ritmo de samba”, conta.

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