A pesca artesanal ainda é uma das principais atividades econômicas de São Pedro da Aldeia. Muitos moradores mantêm viva a tradição pesqueira ao colocarem seus barcos, diariamente, nas águas da Lagoa de Araruama. Eles partem das praias Linda, Baleia, Pitória, além das localidades como Camerum, Ponta do Ambrósio, Baixo Grande, Mossoró, Poço Fundo e Boqueirão. O ofício sustenta cerca de 500 profissionais e suas famílias, sendo transmitido de geração para geração. Neste início de ano, as boas condições da laguna têm dado motivos para que o setor comemore.
Paulo César Pinheiro, conhecido como Azeredo, trabalha como pescador na Lagoa de Araruama há 35 anos. A tradição passou do pai, que capturava camarão, para os filhos. “Comecei a pescar com 16 anos. Eu, meu irmão, meu primo, nascemos aqui e vivemos só da pesca. Eu saio da Praia da Baleia todos os dias, mas pesco nessa lagoa toda”, contou.
Azeredo explicou que, após o último período de defeso, que se encerrou no fim do mês de outubro, os pescadores notaram o aparecimento frequente de espécies pouco vistas nos últimos anos. Com base na experiência adquirida ao longo de mais de três décadas em contato com a laguna, ele atribui o fato à melhora da qualidade da água. “Em certos pontos a lagoa está cristalina. Temos visto robalo, tainha e até carapicu. O carapicu só aparece quando a água está mesmo limpa, aí temos certeza da melhora”, disse.
Atualmente, não há nenhum órgão que acompanhe a pesca e elabore uma estatística precisa na Região dos Lagos. No entanto, os pescadores relatam melhora não somente pelo ressurgimento de algumas espécies, mas pela qualidade e quantidade do pescado. A Secretaria Adjunta de Pesca estima que 100 toneladas de peixe tenham sido capturadas apenas no mês de fevereiro, principalmente de perumbeba e carapeba.
“Reparamos um pico na pesca da perumbeba em janeiro e fevereiro, estamos pegando peixes de um a quatro quilos. Na quinta-feira, somando os quatro barcos da minha família, pegamos três toneladas de pescado. Só no meu barco foram 200 quilos de tainha”, contou Azeredo.
O pescador e assessor da Secretaria Adjunta de Pesca, Breno Bento dos Santos, falou um pouco sobre a rotina dos pescadores que sobrevivem exclusivamente da pesca, mostrando como a fartura torna o trabalho menos sacrificante. “O pescador sai de manhã cedo e volta no fim da tarde, isso quando ele consegue matar uma quantidade razoável de pescado. Quando não consegue, fica até a noite e volta às 21h. Outros já pescam só durante a noite. Os tipos de arte são diferentes, mas a rotina exige muito”, narrou.
Ainda segundo Breno, os relatos e os números estimados levam em consideração o que tem sido observado em pontos específicos da laguna, não em toda ela. “É importante dizer que estamos falando de uma região da lagoa que chamamos de área três, que vai da Ilha dos Macacos, na Ponta da Areia, aqui em São Pedro da Aldeia, até o final de Praia Seca. A visibilidade aqui melhorou bastante. Acreditamos que essa melhora da água ocorreu por causa da pandemia, que diminuiu o fluxo na região”, informou.
Além da venda local, o pescado proveniente de São Pedro da Aldeia também é distribuído nos mercados de municípios da Região dos Lagos e do Norte Fluminense. O estado de São Paulo e alguns locais do Nordeste também recebem o produto, em épocas de fartura.